A memória se inscreve neste livro como um caleidoscópio. Seus fragmentos temporais, advindos de diferentes passados e em coexistência com o presente, subvertem a sucessividade cronológica e instauram no contemporâneo uma multiplicidade em movimento. Trata-se de uma memória viva, que, através de um instigante jogo entre o arquivo e a invenção, é tomada pelo estudioso Wilson Oliveira Filho como uma das linhas de força do live cinema — essa arte híbrida e performática do audiovisual, capaz de costurar, ao vivo, o cinema das origens com uma pluralidade de sons, imagens e conceitos das tecnologias do agora. Uma constelação de cineastas e artistas audiovisuais de diferentes países e contextos é percorrida de forma prismática ao longo das páginas. A isto, soma-se uma sondagem multifacetada das camadas e texturas de diferentes filmes, performances e outras manifestações artísticas. Colecionismo e imaginário tecnológico, cinema da memória e memória do cinema, homenagem e experimentação, tudo isso se articula no livro, de modo a evidenciar que, a cada instante, nasce um passado em meio às transformações do tempo. Nesse sentido, o próprio termo "contemporâneo" se dá a ver também como colagem e montagem. Com um referencial teórico variado e consistente, o autor incursiona tanto na história do cinema quanto nas práticas híbridas do cenário interartístico atual, reconfigurando os novos paradigmas audiovisuais à luz do que, no caleidoscópio da memória, se apresenta como exercícios ousados de imaginação.